domingo, 4 de agosto de 2013

A faxineira que virou depiladora


Essa história é antiga, da época que eu tinha o salão, agora tenho uma clínica de bem estar, nosso querido Chá de Beleza & Bem Estar, era o fim da linha do salão. E faz parte da minha decisão de me aprimorar na arte da depilação. É uma história triste, mas acho que serve como alerta pata quem pretente abrir algum salão ou clínica. Vamos lá.

Anacléia era analfabeta, tinha 5 filhos, foi indicada por uma depiladora minha para trabalhar no salão como faxineira. Ela limpava a casa como eu nunca vi... até os azulejos da cozinha ela limpava com escovinha de dentes, um capricho!

Mas eu não me conformava com o fato dela não saber ler e escrever, resolvi ensina-la, comprei cartilhas, joguinho de letras, ficava pelo menos uma hora por dia com ela, tentando ver se ela aprendia algo. Era muito difícil, ela já tinha uma certa idade e eu não tinha didática nenhuma... mas eu ia tentando e ela também. Devagar pelo menos o nome ela já conseguia assinar... conta ela sabia fazer de cabeça era esperta a bichinha...

Mas como em toda empresa, vassoura nova sempre varre bem, durante um tempo ela foi exemplar na limpeza, mantinha o salão impecável, comecei a dar a ela além do salário uma cesta básica para ajudar em casa afinal 5 filhos não era bolinho.Todo Natal fazíamos festinha no final do ano e eu sempre presenteava todos os filhos dela. E eu fazia de coração pois ela era realmente empenhada...

Ela ficou 4 anos comigo. Com o tempo fui ensinando ela a mexer com a cera de depilação e aos poucos comecei a ensina-la a depilar, eu e as outras depiladoras, todo mundo ajudava Anacléia. Minha idéia é que ela evoluísse, aprendesse uma profissão melhor, e ela foi aprendendo... não só as coisas boas como as coisas ruins também... conforme a empresa foi crescendo e a quantidade de funcionários aumentando também aumentaram as maçãs podres e infelizmente toda capacidade que ela tinha pra aprender também tinha para se influenciar... e Anacléia começou a mudar...

Começou a perder a humildade, a se achar..., passou a reclamar do serviço, do horário, do ganho, começou a chegar tarde, em vez de dar o bom exemplo para as novas ela foi se estragando com as más influências, foi se debandando para o lado de lá... o processo foi lento eu demorei para acreditar, mesmo porque toda a empresa estava se degringolando sem que eu percebesse. 

Na fase ruim, aquela pior de todas, ela não foi trabalhar com a massagista, ficou como depiladora, já estava fazendo clientela, eu naquele turbilhão tentando salvar as coisas, chegou num ponto que ela era a única depiladora da casa, pois a massagista levou a outra, tudo dando errado e ela veio e pediu as contas. Eu não tinha nem dinheiro pra pagar a recisão dela, fíz um acordo para pagar parcelado em 10X, ela aceitou e eu fui na tempestade por mais 9 meses, tive que aprender a depilar para não ter que contratar mais ninguém, eu estava ficando totalmente sózinha a falência já tava batendo na porta, chegou um ponto que eu só tinha uma funcionária, nova tinha entrado a 3 meses, praticamente para me ajudar a fechar. Então veio a punhalada fatal.

Quando faltava o último pagamento do acordo dela, eu estava numa situação desesperadora e atrasei 2 dias para paga-la. Recebi um telefonema anônimo dizendo que se eu não pagasse eu iria me arrepender. Não entendi mas paguei, no dia seguinte apareceram 2 fiscais da justiça trabalhista dizendo que receberam uma denúncia de que tinha gente trabalhando sem registro no salão, eu só tinha aquela coitada que estava me ajudando a fechar, as fiscais ficaram até com dó de chutar o cachorro morto, mas mesmo assim me fizeram registrar a menina mesmo sabendo que eu estava para entregar a casa. Mais prejuízo, mais dor de cabeça e tudo a troco de nada pois nessa altura do campeonato eu já estava decidida a não ter mais negócio. E foi ela que me denunciou, junto com uma recepcionista antiga. 

Acreditem ou não... tempos depois... ela me ligou em casa para perguntar se eu tinha trabalho pra ela, essa gente é caruda mesmo não? pra essa eu respondi bem mau educada que se eu a visse passando fome na minha porta junto com um cão era mais fácil eu alimentar o cão. Pelo menos eu não me arrependeria depois.

Lição: Oferecer a vara, nunca o peixe

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